Um cabaré eletrizante com De Lucca Circus e Os Profiçççionais

Quem é bom em fazer conta já consegue imaginar rapidinho qual é o resultado de uma equação que soma quatro talentos, eleva-os às potências da virtuose circense e da comicidade e os multiplica por 60 minutos. Qual é? Qual é? Qual é? Olha, se ainda está meio confuso, é melhor que você torça para o Cabaré Mundo Circus passar pela sua cidade logo, logo pra você descobrir isso. O espetáculo é a consequência de uma aproximação, inicialmente despretensiosa, entre os trabalhos das companhias De Lucca Circus e Os Profiçççionais, de Ribeirão Preto (SP), por meio da qual seus integrantes puderam tanto compartilhar saberes quanto renovar técnicas que dominavam. Tudo isso feito em conjunto com um público participativo, que fica eletrizado do início ao fim da apresentação.

Com números de seus repertórios que já tinham alguma maturidade, os rapazes montaram esse espetáculo dinâmico e envolvente, com o qual eles, atualmente, vêm circulando por aí. “No começo, eram entradas, ações rápidas, números que a gente ia apresentando em várias cidades. A gente viu que a coisa funcionou, que ficou muito legal, o público gostou. Faz um ano que a gente vem lapidando, tentando amarrar para ficar uma coisa o mais coesa possível, gostosa der ver”, conta Rafael Rodrigues, um dOs Profiçççionais.

No Cabaré Mundo Circus, muitas técnicas circenses são apresentadas com maestria: desde mesa e escada acrobáticas, passando pela portagem entre três corpos, paradas de mão, malabarismo (com bolas, claves, box e diabolô), mágica e – ufa! – o equilibrismo, com um monociclo do tipo girafa! Além da prática da virtuose, esses multiartistas circenses incrementaram seus trabalhos com uma generosa medida de humor. A partir de cursos e experiências cênicas que tiveram na palhaçaria, eles foram montando, ao longo desses mais de 10 anos de carreira de ambas as companhias, um repertório que apresenta no corpo dos artistas um quociente de tirar o fôlego da plateia, tanto pela típica apreensão que um espetáculo circense causa no espectador quanto pelo relaxamento que o riso proporciona.

O humor sempre vem à tona
João Marcílio, também integrante dOs Profiçççionais, diz que, quando deram início ao trabalho, até tentaram fazer coisas sérias, “mas a gente percebeu que não dava certo. O humor vinha por si só”. E aí, tiveram de se render. “Foi um lance de aceitação. Não adianta a gente querer criar nada sério. A gente gosta do cômico, do humor, então, vamos por esse lado, esse caminho”, completa Rafael. E o caminho escolhido foi, de alguma maneira, pavimentado pela prática da palhaçaria. Isso não somente falando dOs Profiçççionais, mas também trazendo a história de Lucas Santarosa, o artista que fundou e leva adiante o De Lucca Circus. “A forma como a gente trabalha é a com que um palhaço trabalha para provocar o riso. É por esse aspecto que a gente está ligado à figura do palhaço”, ele salienta.

Se pensarmos o circo como uma prática que ultrapassa a virtuose dos artistas, que fica longe de se esmerar pela perfeição, mas que também leva em consideração aquilo que envolve o público presente em um espetáculo – o humor, o corpo do público etc. – temos um território de atos e gestos de possibilidades múltiplas de enlace. André Doriana, que completa o trio dOs Profiçççionais, traz uma interessante reflexão nesse sentido: “a generosidade do universo do circo mostra que a gente não precisa dessa perfeição”. Ele diz que aceitar o próprio corpo e suas limitações também passa por essa generosidade que o circo pode trazer em suas múltiplas possibilidades de atuação. Não é necessário, segundo ele, estar sempre vislumbrando o Cirque de Soleil, “ter essa referência, se alimentar desse universo, que é bem restrito. As habilidades com o circo, no nível do Soleil, são pouco generosas, pois eles são atletas de elite, bailarinos profissionais que começaram muito novos”, destaca.  Para ele, “a magia do circo está neste lugar: quando ele é generoso com você e você consegue falar ‘ah, então, eu sou pertencente a essa virtuose não-Soleil, mas dentro do meu corpo, dentro da minha virtuose’”.

Com, para e pelo público
Comparando a sua prática (do circo, da palhaçaria) com a de outras áreas das artes, Lucas toca em um ponto essencial: o olhar para a plateia. Para muitos artistas, coloca-se uma barreira imaginária – chamada por vezes de “quarta parede” – que delimita o que é palco do que é plateia. “E na nossa, se não tiver esse olhar, é um distanciamento, que deixa o espetáculo muito frio. Não funciona. Se eu não estou conectado com eles, como é que eu posso chamar alguém para subir aqui do nada? O cara não vai botar fé, não vai confiar na gente”, diz.

Ele conta que, quando está sozinho numa cena, o público é que faz sua dupla, sua parceria no espetáculo. É com o público que se dão os jogos e as brincadeiras: “o diálogo é direto, desde a hora em que eu chego até a que eu vou embora”. E é bem no início dessa relação que Lucas dá seu recado para o público: “se vocês estiverem juntos, vai ser mais legal”. Tanto que, frequentemente, Lucas conta que chega a pedir que se acendam as luzes da plateia para ver como o público está reagindo. “Se eles estiverem todos de cara amarrada, isso quer dizer que a gente precisa tomar uma atitude em cima do palco”. Seu parceiro de cena no Cabaré Mundo Circus, João, acrescenta: “é esse casamento entre público e artista que faz o nosso trabalho acontecer, que faz esse trabalho ficar vivo”.

Só de espetáculo não se vive
É um casamento que também precisa ser mantido, sustentado por outros meios que não somente pelo diálogo com o público ou pela própria bilheteria do espetáculo. Se o artista não consegue se bancar no dia a dia, como ele dará conta de seguir adiante fazendo o que gosta? Lucas, João, André e Rafael apontam alguns caminhos, que, para eles, têm possibilitado se manterem fazendo arte de forma independente (sem patrocínios e apoios governamentais ou privados, que nunca são frequentes em nosso país): fazer produção cultural, dar aulas de circo e teatro, fazer parcerias em espetáculos com outras companhias – como é o caso do próprio Cabaré Mundo Circus –, apostar na divulgação e na formação de público.

Lucas diz que o negócio é não parar de trabalhar, de produzir, e que toda a trajetória é percorrida na raça, mesmo. É na vontade de fazer. Para viver da arte, segundo ele, precisa-se de vontade e planejamento. Seja com projetos de incentivo ou sem eles (como editais, leis de fomento etc.). “Se o cara não se motivar diariamente a investir esforços para fazer acontecer, não vai acontecer”, afirma. Assim, os quatro artistas, em parceria ou em suas companhias atuando independentemente, mostram que é possível viver da arte, com casa (muito!) cheia e tudo.

Em nossa Caravana_SP, estivemos em Ribeirão Preto entre os dias 7 e 9 de maio, acompanhando o espetáculo e a rotina das duas companhias. No vídeo que incorporamos a esta postagem, você saberá um tantão de outras coisas sobre os caras e verá que viver como artista é uma lida árdua em cena e fora dela. Dá o play aí!

 

De Lucca Circus
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Pça Rotary Club, 325, City Ribeirão
Ribeirão Preto – SP

Os Profiçççionais
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(16) 98807-3223, (16) 99174-4141
Rua Brasilina Alves Ferreira, 30
Ribeirão Preto – SP

Cabaré Mundo Circus
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(16) 99606-1377

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