Visita liberada aos Cirurgiões da Alegria

Quando Eliseu Pereira, ainda criança, corria para ver o circo chegando em sua cidade, em Limeira, no interior de São Paulo, e lá fora ficava horas olhando aquela lona, imaginando o que acontecia sob ela, não imaginava que um dia seus caminhos o levariam para dentro do universo circense, especialmente, para o planeta palhaçaria. No entanto, em vez de uma lona colorida ser palco de suas trapalhadas, tecidas para um público que vai ao encontro do artista, seu palhaço, o Gaguelho, ganhou título de cirurgião e viu nos hospitais o lugar perfeito para manifestar sua arte com alegria a quem menos isso espera.

A ideia germinou quando Eliseu se envolveu com um trabalho voluntário em 2002, lá mesmo em sua cidade. E ganhou impulso quando conheceu Wellington Nogueira, coordenador geral da organização Doutores da Alegria, que, com a arte do palhaço, intervém junto a pessoas em situação de vulnerabilidade e risco social em hospitais públicos. “O grande desejo era trabalhar com essa arte, fazer dela um ofício”, Eliseu conta. Para tanto, ele se permitiu um processo profundo de pesquisas e a participação em várias oficinas de formação.

Em 2004, recebeu um convite do Wellington para fazer parte de um projeto-piloto no Hospital Municipal Dr. Mario Gatti, em Campinas. O que era para ser um plano de seis meses acabou se estendendo para 22. E a ideia se tornou um ideal em outubro de 2006, quando surge a Associação Beneficente Cirurgiões da Alegria, que, além de oferecer a atuação de palhaços em ambientes hospitalares, propicia aos artistas da cidade de Limeira a chance de trabalharem profissionalmente neste segmento.

Desde então, o elenco já passou por muitas transformações, ocorridas ora por falta de recursos (inviabilizando, assim, recrutar e manter uma grande equipe de artistas), ora por uma carência mesmo de profissionais na região. Além de contar com Eliseu, atualmente, são mais dois cirurgiões que andam com um nariz vermelho pelos hospitais: Tiago Abad (que é também coordenador de formação do elenco), com seu palhaço-cirurgião Acerola; e Guilherme Figueiredo, com seu palhaço-cirurgião Figuerino.

Em 2016, o programa completou 10 anos, chegando a 73 mil visitas. Hoje, atendem três hospitais parceiros: o Hospital Municipal Dr. Mario Gatti, em Campinas, e os Hospitais da Unimed e da Medical, ambos em Limeira.

Sintoma de empatia
Todo o trabalho desenvolvido pela associação é totalmente gratuito para o hospital e para o público. A sustentabilidade dela advém de leis de incentivos fiscais, doações de empresas, sócios-mantenedores, eventos, apresentações de espetáculos teatrais e palestras-show. “No início, fazíamos a manhã da torta, a tarde da baguete, a noite da pizza, feijoadas… E tudo isso serviu para manter o trabalho acontecendo”, recorda Eliseu. “A associação se mantinha por meio desses eventos, mas houve a necessidade, em um determinado momento, de ter um recurso. Daí, a gente partiu para os editais e para a Lei Rouanet, que era uma forma de ter uma fonte fixa durante o ano. Foi então que a associação criou uma base, uma estrutura”, conta Regiane Gloria, coordenadora administrativa e financeira.

Segundo ela, a sustentabilidade continua sendo um desafio a cada ano, diante da instabilidade dos recursos públicos, o que também os fez criarem espetáculos como produtos culturais – um exemplo disso é o “Alimentação é coisa séria”, peça teatral que eles criaram para abordar o tema da saúde alimentar na infância. No vídeo abaixo, além de assistir à reportagem que O Quintal de Fulana e Melão fez com o grupo, você pode conhecer um pouco mais sobre a história desse espetáculo.

 

Outro desafio no cotidiano dos Cirurgiões da Alegria se refere à carência de palhaços. “A gente tem uma deficiência muito grande aqui no interior de ter palhaço profissional. A associação já teve abertura de editais e não conseguiu ter essa mão-de-obra”, diz Regiane. “A gente ainda está compreendendo se é a cidade que não entende que existe essa demanda ou não vê nisso um trabalho profissional. São 11 anos querendo descobrir o que falta para essa aproximação ou para as pessoas entenderem o palhaço como profissão”, desabafa Tiago. Hoje, eles têm contrato com três palhaços, mas já chegaram a ter nove pessoas compondo a equipe. O recrutamento de novos artistas para a equipe funciona por meio de edital de seleção, tudo explicadinho no site deles.

O fato de trabalhar no hospital, ouvir, entender e sentir as necessidades que compõem a sua rotina fez também com que a associação criasse campanhas de doação de sangue e de medula óssea. “O nosso objetivo é conscientizar, porque a gente acredita que isso é a solução”, diz Fábio Ponte, diretor dos Cirurgiões da Alegria e coordenador dessas ações.  A campanha de doação de sangue é feita nas universidades, onde, segundo Fábio, há um público jovem e de grande potencial para realizar tal ação. “Damos uma palestra e vamos de sala em sala explicando como acontece. Já a campanha de medula óssea foi lançada em 2016, em parceria com a Unicamp e o Hemocentro de Campinas”.

O melhor diagnóstico
Uma pesquisa promovida pela associação dentro dos hospitais atendidos por ela mostrou a relevância do serviço realizado pelos palhaços, como uma ponte entre o profissional da saúde e a criança hospitalizada. “Eles acreditam que somos um auxílio, uma parceria”, salienta Tiago, que se surpreendeu com a conclusão da análise como sendo um trabalho “terapêutico”. “O que não é nosso foco”, ele diz. E completa: “mas quando você acredita que o palhaço auxilia na evolução da criança e no meu trabalho, e ele é indispensável, aí sai como terapêutico. Ao você cruzar todas essas informações, gera um indicador de que o trabalho auxilia no processo de cura ou de alta hospitalar”. Para Eliseu, a pesquisa também tem seu valor histórico, por deixar um registro sobre o impacto do trabalho do palhaço nos hospitais, sua contribuição comprovada no segmento da saúde.

Há pouco tempo, os integrantes firmaram uma parceria com os médicos cirurgiões dos hospitais parceiros de os acompanharem nas visitas diárias – dessa vez não como palhaços –, na ânsia por criarem uma identidade, fortalecerem a pesquisa. “Como é a postura do médico, como as pessoas lidam com ele, o que ele enxerga primeiro no quarto. E de que maneira esse médico se relaciona com o paciente”, relata Eliseu sobre esse novo exercício.

O projeto Cirurgiões da Alegria é aprovado pelo Ministério da Cultura através da Lei Rouanet, e conta com o patrocínio das empresas Carrinhos Galzerano, Cerâmica Carmelo Fior e Zaccaria; além do apoio das empresas Unimed Limeira, Medical, Álamo Comunicação, Parks e Games, Nelson Shiraga Fotógrafo, Roca, Pizzaria Don Francesco, Nutriom, Ducovox, Rede Ubuntu, Hortelã, RMA Pinturas e Astro Contabilidade.

Como se somar e apoiar também o projeto?
+ Dá pra destinar parte do seu imposto de renda. Se for como pessoa física, clique aqui. Já para pessoa jurídica, é aqui.
+ Ser um Sócio Mantenedor da Alegria, fazendo doações mensais e tendo benefícios e vantagens nos produtos da associação. Veja como aqui.
+ Ser uma empresa patrocinadora da alegria, doando em espécie mensalmente ao projeto: aqui.
+ Ser uma empresa apoiadora da alegria, doando produtos, materiais e prestação de serviços. Saiba mais aqui.
+ Ou se sua empresa pode ajudar desenvolvendo campanhas de marketing e reverter parte das vendas de um produto ou serviço para os projetos do Cirurgiões da Alegria, clique aqui.
+ E também por meio de doações esporádicas. Com depósito nesta conta corrente: Banco Itaú/ Agência 8147/ Conta-corrente 10126-8.

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Cirurgiões da Alegria
(19) 3442-4651, 99236-5145
cirurgioesdaalegria.org.br
facebook.com/CirurgioesAlegria

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