Sentimento do Jeca

A começar pela generosa recepção, os abraços demorados e o café com bolo no meio da tarde, o ator e palhaço Reinaldo Facchini tem na forma de contar sua trajetória artística uma disponibilidade e emoção que encantam. E se simplicidade também tem a ver com focar-se em algo, ele bem pode se gabar do mérito de ser um homem simples e de saber se entregar inteiramente ao desejo de se tornar um artista.

Em 1993, durante o curso de teatro na USP (Universidade de São Paulo) de Pirassununga, cidade do interior de São Paulo onde Reinaldo nasceu, chegou a realizar trabalhos envolvendo modalidades circenses, como acrobacias de solo, trapézio, perna-de-pau e pirofagia. “A única coisa que eu não queria ser era palhaço. Achava que era colocar uma roupa colorida e sair pulando que nem macaco. Não achava graça”, conta. Mas a vida com ele quis ser engraçada. Ávido por conhecer mais profundamente o universo teatral – e vendo seu futuro fadado a ser militar ou comerciante se assim permanecesse no interior –, abriu sua porteira e colocou-se à mercê da grande oferta cultural do Rio de Janeiro. Quando prestes a retornar à sua cidade, um curso de palhaço surge, e ele não recusa a fazê-lo. “Queria aproveitar ao máximo tudo o que o Rio poderia me propor”, justifica e, ao entrar em contato com a linguagem do palhaço, descobriu ser exatamente aquilo que buscava.

Eita, mundão grande!
Trabalhou com o ator, palhaço e diretor Marcio Libar, seu primeiro professor, durante cinco anos e, em paralelo, participava de oficinas em várias vertentes da palhaçaria – bufonaria, clownaria clássica, produção. “Aos finais de semana, eu colocava meu figurino, pegava a minha mala e saía sem saber o que eu ia fazer. Era uma forma de recolher, de ver como funcionava esse meu jogo. Como meu palhaço se relacionava com o outro, entendendo como era o tempo da comédia”, pontua ele sobre seu progresso e refinamento artístico. Essa busca pelo Jeca fez Reinaldo assumir seu ser essencialmente interiorano: “Precisei me tornar urbano pra me descobrir caipira”. Desde então, passou a levar em uma das mãos traços de sua origem e ancestralidade; e em outra, sua comicidade. As águas desses dois rios desembocam em sua pesquisa por ele batizada de ClownPira, o palhaço caipira.

Resquícios da cidade maravilhosa, hoje em dia, habitam levemente o sotaque de Reinaldo, como um registro do quanto foi determinante esse seu ciclo no Rio de Janeiro. Também marcante foram os sete anos que se propôs a estar no Terminal Tietê, em São Paulo, como palhaço, interagindo e ouvindo histórias de pessoas de várias partes do País. “Isso enriqueceu muito o meu trabalho e foi daí que nasceu meu espetáculo Esperando na Rodô”, recorda ele sobre a peça dirigida por Marco Pavani e com a qual triunfou, apresentando-a de norte a sul do Brasil– e fora dele também! Com ela, conquistou títulos de “melhor ator” nos festivais de teatro de Itapira, SP (2009), e Paranavaí, PR (2011), e “melhor espetáculo” na primeira fase do Mapa Cultural Paulista (2007).

 

No traço do horizonte
Embora a agenda de Reinaldo exija dele uma rotina agitada de viagens, é na tranquila cidade simpatia que está sua inspiração – e piração –, brotada seja nas conversas com quem vive na roça, nos encontros com os amigos, e que vão achar lugar em suas criações. Neste momento, ele configura seu novo espetáculo, “Jeca, o Grande”, ainda em fase de reparos apesar de já tê-lo apresentado em algumas praças.

E ainda dentro do projeto ClownPira, Reinaldo já tem organizado e desenhado no papel o que será o Sítio do Jeca, um centro de pesquisa da cultura caipira. Na contramão dos parques temáticos tecnológicos, nessa sua proposta, ele quer possibilitar que a pessoa se sinta em contato consigo mesma ao estar com a natureza, revendo utensílios e recursos que eram usados antigamente e de forma lúdica, trazendo à tona a reflexão sobre como a felicidade está intimamente ligada à simplicidade. “Certa vez, eu ouvi do Marcio Libar que, se você não cabe nesse mundo, crie um mundo onde você caiba por inteiro. E eu tô criando. O projeto ClownPira é esse universo onde eu caibo por inteiro”.

Reinaldo Facchini (Palhaço Jeca)
(19) 99129-7608
reinaldojeca.wixsite.com/sitiodojeca
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palavradepalhaco.blogspot.com.br

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