Ensaio (um) encontro

Diante do palhaço, sentado num balanço de madeira e cordas amarrado a uma árvore pouco segura, ela riscava os pés no terreno da praça verdinha. A fotógrafa chegou com o olhar desencontrado com o dele. Havia quase nada de objetividade nela. Menos ainda, folhas secas para se fazer ouvir seu caminhar lento. O palhaço pedia que ela se habituasse, que se soltasse um pouco. “Sou tímida. Não sei existir de outro jeito”.

O palhaço – acostumado com o fluxo de apneias constantes entre a leitosa, vaporosa e profunda densidade da existência e a superficialidade de uma pele sobre a qual mulheres e homens se afogam com frequência – insiste em questionamentos. “Você faz perguntas demais”, a fotógrafa disse ao palhaço. E o que era arredor se silenciou. Ele decidiu, então, brincar. Convidá-la para uma volta, fazer um jogo de esconde-esconde por entre entes do parque, os desaparecidos (ou despercebidos) principalmente, para sentirem em cada coisa o que se poderia coincidir com ela.

Até o fim daquela volta, produziram menos aspas do que o palhaço pretendia. Em vez disso, enxergaram-se, mutuamente, na câmara clara que era aquela manhã junina. Pintaram-se de névoa. E registraram alguns parcos pontos de rubor no intervalo entre cliques. Tatiana Plens é o nome da fotógrafa, nossa amiga, cujos truques com a luz você vê na galeria de fotos acima.

Tatiana Plens
tati.plens@gmail.com
instagram.com/taplens

FULANA E MELÃO